domingo, 23 de janeiro de 2011

Prateleiras vazias

O móvel de cor escura no quarto sempre abrigou os discos de vinil.
Eram muitos discos, passava de quinhentos ou eu imaginava que fossem quinhentos.
Com a chegada dos CDs eles ficaram ali, naquele móvel, esquecidos mas nunca abandonados. Seu dono tinha um ciúme quase doentio deles.
Manter a poeira longe daquele móvel era tarefa árdua e eu a fiz durante mais de 25 anos.
Um dia o dono dos discos se foi, na pressa da partida deixou para trás seus pertences, entre eles seus discos.
Eles ficaram ali no quarto, enfeiando o local, e eu que sempre desejei por fim neles, quase me vi tentada a faze-lo.
Mas a racionalidade falou mais alto, e com pena de sua orfandade, ainda assim continuei cuidando deles.
Um dia o dono veio busca-los. Grande alivio.
Sobrou o móvel feio e escuro que abrigou durante mais de 2 décadas aqueles objetos. O vazio das prateleiras naquele móvel feio bem como a marca deixadas na madeira se assemelhavam a minha vida. Faziamos parte da mesma história, eramos cumplices do mesmo destino.
No meu novo projeto de vida ele nào tinha mais espaco, ali naquele espaco visualizava um móvel claro de linhas modernas.
Um marceneiro chamado para consertar a fechadura do banheiro do quarto, deu o veredicto:
móveis assim com essa madeira boa nào se encontram mais . Agora os móveis sào todos frágeis, nenhum deles tem essa durabilidade.
Nào tive coragem de me desfazer do meu móvel. Uma pintura branca bem feita deixou-o branquinho e mocinho, melhor ainda do que aquele que eu desejava.
As parateleiras foram ocupadas com meus objetos, com meus livros, com os meus pertences novos e velhos. E para combinar com ele, estou ocupando e reorganizando a minha vida.

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