domingo, 16 de maio de 2010

TATUAGEM DE ARANHA


Que pena que você fez uma opção, onde seu caminho te conduz diretamente oposto ao dele.
Que pena que você não tenha partilhado a companhia de seu filho, neste domingo feliz que passamos.
O dia começou com ele acordando alegre, tagarelando com seu papai, cobrando uma prometida ida ao MCD.
Depois de duas mamadeiras, ele ficou por ali assistindo televisão.
Mais tarde fomos ao mercado.
Lá ele comeu algodão doce, ganhou bichinhos de bexigas, ganhou uma tatuagem de aranha na mão. Agora anda por aqui com a mão dura, com medo de estragar o tatoo.
Que pena que você não está junto dele.
Tenho muita pena de você.

sábado, 15 de maio de 2010

PRINCESA QUE FAZ FEITIÇO


Estava lendo o blog Casa da Cris e deparei-me com esta foto.
O Guilherme, que estava logo atrás de mim, viu e perguntou:
- É uma princesa que faz feitiço?
-Qual o feitiço que vc acha que ela faz pegunto eu.
- Eu acho que ela aponta o dedo e deseja. Deseja que você vire um cachorro.
-Mas você não acha que ela devia desejar que eu virasse uma princesa? Logo cachorro?
- Ah mãe ela faz feitiço. Não sabe o que é feitiço? É do mal.

MISS SUNSHINE


A pequena Mis Shunsine perdeu-se.
Nada de carinho, apenas mágoa, rancor, irritação, impaciência.
Calejada que estou da vida, sigo triste, mas sigo.
Aprendi que a despeito de tudo, posso continuar. Que as forças não hão de faltar.


Mas queria de volta a pequena Miss Sunshine, ah como queria.

GATO PRETO


A nova vizinha da casa ao lado, tem um gato preto.
O gato preto está sempre no telhado da minha garagem.
Parece que o gato preto deu fim aos passarinhos que moravam no beiral do telhado.
Hoje deparei-me com muitas penas espalhadas pelo quintal.
Pobres passaros.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

CAMA NOVA


Preciso urgente de uma cama nova.
Primeiro porque a cama onde durmo está velha, colchão velho, gasto, acordo todos os dias com dor nas costas.
Segundo, porque, quero me livrar de velhas recordações, pudesse renovaria tudo no quarto. Mas o dinheiro está curto, minha finanças está empatada com a crise da Grécia.
Voltada que estou com minhas atenções para cama e colchão, tenho reparado na infinidade de lojas de colchões que existem na cidade.
Há uma loja na frente do ponto do ônibus que apanho para ir ao trabalho, outra a menos de 200 m, e mais outra coladinha em mais outra, e outra, vou contando no trajeto do ônibus. E há outra bem em frente do prédio onde trabalho. Ou seja, dá para comparar preços e modelos. Ah e fora o canal de vendas na Televisão. Dificil decidir entre tantos modelos. Fico muito indecisa.
Mas enquanto a situação financeira não permite que eu faça a compra, comprarei um jogo de lençoís novos e um pijama novo.
Hoje entrei nas casas Bahia para ver preços. Sentei numa casa box linda, grande, e de repente enxerguei um passado.
Quando eu era menina, devia ter uns 8 anos, dormia numa cama de palha. Cama patente, com colchão feito de palha de milho.
O colchão, se é que poderia ser chamado de colchão, era uma saco de chita do tamanho da cama feito pela minha mãe, que recebia o recheio de palha.
Para que o colchão ficasse bem fofinho, existia um buraco no saco, onde você, ou quem fosse arrumar a cama, enfiava a mão, e afofava bem a palha, até que o colchão ficasse altinho.
Quando você deitava naquele monte de palha, cuidadosamente espalhado e afofado, imediatamente aquilo afundava.
Pela manhã, você acordava praticamente sobre o estrado.
Eu tinha duas opções: ou dormia na cama de palha ou dividia a cama com mais dois irmãos.
Como eu fazia xixi na cama ( e o fiz até os 12 anos) ninguém me queria na cama então sobrava a cama de palha.
Eu até que gostava da minha cama, mas o tormento era na hora de arrumar a cama. Porque a cama tinha que ser arrumada e bem arrumada. Eramos pobres, mas limpinhos.
Enfiar a mão naquele buracos, era um sofrimento. Um tormento. Só comparado ao medo que eu sentia de apanhar da minha vizinha Terezinha, que todos os dias depois da aula, me obrigava a vir correndo pra casa, ante a promessa de: vou te pegar na saída da aula.
Contavam histórias, e quem contava eram os mais velhos, que num sitio lá não sei onde, nos cafundós do juda, uma mulher tinha enfiado a mão no buraco e tinha sido picada por uma cobra. Ninguém conhecia a tal mulher que fora picada, mas juravam que era verdade.
Diziam, que as cobras entravam no saco porque era quentinho e ficava esperando a mão que iria afofar a palha para picar. Eu acredita que existia uma cobra dentro do meu colchão, que estava sempre pronta, todos os dias pela manhã, para me atacar.
Eu não tinha medo da cobra à noite quando dormia sobre aquele colchão. Para mim a cobra só existia pela manhã, na hora da arrumação.
Sofria em silêncio, nunca dividi com nenhum de meus irmãos, nem com meus pais, amigos, o pavor que eu sentia da cobra que para mim era real e morava no colchão.
A cobra não tinha vida além dos limites daquele colchão, ela só existia no mundo para me apavorar e para um dia abocanhar um pedaço da minha mão.
Eu enfiava a mão no buraco, e rezava um pai nosso de olhos fechados, pedindo para não ser picada. Fazia promessas, oferecia aos santos rezas, confessava meus pecados ao Santo Padre e houve um tempo que ia à missa todos os dias. Vestida de branco, com a minha roupa da primeira comunhão. Prometia obediência e o cumprimento dos mandamentos da Lei de Deus.
Um dia, compraram um colchão de crina para a caminha, e a minha irmã mais velha passou a dormir naquela cama.
Simples assim.
Naquele tempo, criança não discutia. Obedecia.
Simples assim.
E eu, eu voltei a dividir uma cama com meus dois irmãos.
--------------------

Bolinhos de Chuva


Voltei do trabalho cansada.
Cansada pelo stresse da prova no final do curso de Finanças que terminou hoje.
Cansada do tumulto na Praça Ramos, ocasionado pela morte do gari esmagado pelas rodas do caminhão pipa.
Cansada cheguei em casa, um pouquinho feliz pois daria tempo de assistir "Todo Mundo Odeia o Chris".
(série bseadana infância e adolescência de Chris Rock, comediante e ator americano, criador, produtor, narrador e ator da série)
Dizem que uma mulher na minha idade, que se amarra em série de adolescente, deve ter algum problema, mas eu não me importo.
Sentei no sofá, assisti a primeira parte do seriado, e, dormi.
Dormi e sonhei.
Sonhei que estava comendo bolinhos de chuva que a minha mãe fazia. Polvilhados de açucar, eram crocantes por fora e macios por dentro. Ela os fazia para substituir o pão no café da tarde. Hoje sei que era quando faltava o dinheiro para o pão. Naquela época isso não fazia a menor diferença, os bolinhos eram deliciosos, e não importava que não estivesse chovendo, sempre era dia pra comer bolinho de chuva.
Acordei com o gosto do bolinho tão presente no meu paladar, que a despeito de estar quentinha no sofá, levantei e fui fazer bolinhos de chuva.
Receita, para que?
Ora quem não sabe fazer bolinhos de chuva?
Só colocar farinha, leite, manteiga, açucar, ovos e fermento, mexer bem e fritar.
Antevia bolinhos deliciosos, salpicados de acuçar, uma bela xicara de café preto, porque bolinho de chuva tem que ser saboreado com café fresquinho.
Mas os meus bolinhos viraram uma massa disforme na frigideira, encharcados de óleo, ficaram horriveis. Fritei duas rodadas e desisti. Joguei fora a massa, lavei a louça suja e encarei os bolinhos assim mesmo.
Vou procurar uma receita de bolinhos de chuva na rede ou pedir para alguém me ensinar.
Ou se eu tivesse mãe, iria agora pra casa dela comer bolinhos de chuva.

terça-feira, 11 de maio de 2010

O dia em que minha mãe transformou batatas em pêras


Dia das Mães inesquecível? Aquele que passei em Nova York, com minha filha, numa igreja gospel? Não. Estava longe dos outros filhos e, portanto não seria perfeito.

Aquele que passamos em Buenos Aires, passeando na Recoleta? Não. Também estava longe dos outros filhos..

Qual então? Onde fora?

Esse dia inesquecível não passei como mãe: passei como filha.

Sabia fazer contas como ninguém. Multiplicava os salgadinhos que fazia pelo preço unitário e chegava ao resultado antes mesmo de nós, os filhos, que sabíamos a tabuada de cor. Ela não sabia ler, mas exigia que os filhos só tirassem notas boas na escola.

Era Dia das Mães. Eu tinha 15 anos. Morávamos numa casinha simples e brilhante no interior do Paraná. Minha mãe havia recebido uma encomenda muito grande de salgadinhos, e tinha recebido um bom dinheiro. Prometera que o almoço desse dia, além daquele frango maravilhoso que ela fazia como ninguém, teria uma sobremesa surpresa.

Estávamos acostumados aos doces de todo dia: doce de abóbora, de mamão, de cidra…. Mas eram doces caseiros, doces que já não tinham a surpresa do sabor. Ficamos imaginando o que seria a surpresa.

Um pudim de leite condensado? Morangos com chantilly? Era época de morango?

Domingo, mesa posta, família toda reunida. Esperávamos meu pai, que tinha ido à missa do domingo.

No ar, uma alegria misturada com o mistério da sobremesa.

Meu pai chegou, almoçamos. “E, mãe, cadê a sobremesa?”

Não havia nada na geladeira, nada que nossas bisbilhotices pudessem ter descoberto.

Minha mãe então foi até seu quarto e, de dentro do armário, tirou uma caixa de papelão. Dentro, bem escondidas, embrulhadas num jornal, havia três latas de doces. De doces, como ela supunha que fossem.

“Vejam só, crianças”, disse minha mãe. “Peras em calda!”

Na foto que ilustrava a lata, as batatas facilmente eram confundidas com peras. Minha mãe não sabia ler. Não poderia imaginar que existisse batata em conserva. E em latas, como as peras e os pessegos.

Ninguém teve coragem de falar. Ou, antes, ninguém queria falar.

Minha mãe começou a abrir aquelas latas feliz e orgulhosa.

Despejou o conteudo daquelas latas numa travessa e acho que, na excitação daquele ato, nem estava percebendo que eram batatas.

Ela começou a servir um por um. Todos quietos, mudos, recebendo suas porções sem saber o que falar.

O primeiro começou a comer, foi seguido pelo outro, e outro, que seguiu os demais. E, de repente, éramos quatro filhos e um pai comendo batatas como se fossem peras.

Minha mãe tinha o hábito de servir os filhos. Ficava andando pela cozinha e, geralmente, só sentava quando praticamente já tínhamos acabado de comer.

Quando terminamos de comer a sobremesa – juro, juro, que todo mundo comeu toda sua porção – minha mãe perguntou: “Estava bom?”

Todos reponderam que estava ótimo.

Sobrou na tigela uma batata. Minha mãe disse que não queria, não gostava de pera. Meu pai prontamente disse: “Vou terminar com esse pedaço, então. Está muito bom!”

Minha mãe morreu em 2006. Nunca soube que serviu batatas de sobremesa. Porque para nós, o que comemos naquele dia, foi a pera mais saborosa do mundo. Mesmo que não o tenha sido naquele dia, nas nossa lembranças, aquela cumplicidade muda, com que nós, seus filhos, nos comunicamos só com o olhar, transformou a batata azeda na fruta doce.