segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Vida de rico

Sentados ali, olhando o mar do Caribe, ele olhou para mim e falou:
-Deve ser bom ser rico né?
- Não sei Zuzu, não sei se é bom ser rico, porque rica de dinheiro
nunca fui. Mas tô gostando dessa vida de rica que tô levando por esses dias. Acho que o lance Zuzu, já que a gente não é rico, é pelo menos levar vida de rico

Roupa no Varal

E eu passei a tarde inteira pensando: a roupa que deixei no varal com a chuva que caiu deve estar toda espalhada no quintal.
E quando eu cheguei vi que o Lucas recolheu toda a rua do varal. E olha que eu nem implorei, só pedi.....

Los Cabos

Eu olhei pra aquela beleza toda do mar do Pacifico e pensei em você.
Virei pra Zuzu e perguntei: Se você pudesse trazer uma pessoa pra aqui agora, pra compartilhar toda essa maravilha, quem você traria Zuzu?
Ele me olhou e falou: ninguém. Não tenho ninguém.
E eu fiquei com pena dele. Ele era mais pobre que eu.

Essa tal felicdade

E de manhã, com os pés apoiados no beiral da janela, eu tomava café e avistava o Rio Hudson.
E eu estava tão feliz Zuzu, que compreendi que essa tal felicidade que sempre procurei, estava bem ali.

Maria

Á espera do amor.
 Viver um amor platônico é, ao mesmo tempo, divertido, fantasioso e desgastante, e Maria sabe disso.
A verdade é que este amor faz grande diferença na vida de Maria, embora ele sequer saiba de sua existência. Mas o amor que Maria sente por ele basta, é o suficiente para manter o seu bom humor e o sorriso diário em sua alma.
Em alguns dias Maria se sente empolgada, motivada, mas, em outros, este amor – que é só seu – é doído, perde-se no espaço e no tempo, sem chances de acontecer.
O fato é que por mais platônico que possa parecer, Maria sente que um dia eles se encontrarão e viverão um história de amor eterna, daquelas que somente alguns têm direito de encontrar.
Parece estranho falar nisso, quando há inúmeras pessoas casadas, mas aquele amor eterno, verdadeiro e único durante uma vida inteira, da alma que se completa, é extremamente raro.
Há diversos casais juntos há mais de 30 anos, mas Maria não sente entre eles a energia que merece qualquer amor.
E é isso o que ela quer, não um simples casamento ou então uma companhia para a vida, mas o amor puro. Viver a vida inteira com a mesma pessoa não é tão difícil assim, acredita Maria.
Certos dias está tudo bem, em outros nem tanto.
É como uma amizade de décadas.
Não é nisso em que Maria acredita, mas em um sentimento único e constante por toda a eternidade, quase divino, ou melhor, vindo de uma natureza maior.
 É um encontro de almas.
Maria acredita neste relacionamento
e, por conta disso, prefere não se relacionar com ninguém.
Parece um paradoxo, mas não é, e aqueles que pensam que Maria está à procura do príncipe encantado, também se enganam.
Maria quer algo para a vida inteira.
Um único e exclusivo amor mútuo.
Sem medos, receios, sentimentos de ciúme ou de raiva, somente o amor.
Não, isto não é se adaptar a um relacionamento.
É encontrar o verdadeiro relacionamento e acreditar que ele existe.
Aliás, Maria acredita nele e sabe que ele existe.
É dar tempo à vida, viver um dia de cada vez e acreditar que o Universo irá atendê-la um dia.
Enquanto isso, Maria brinda a vida, pois ela merece ser vivida com toda a intensidade.


(Renata Soltanovitch)

sábado, 21 de janeiro de 2012

Mas eu desconfio que a única pessoa livre, realmente livre, é a que não tem medo do ridículo.
Essa tentativa de reviver a juventude é um imenso mal entendido. A invencibilidade do tempo é absoluta para a vaidade humana.Não adianta nem erigir pirâmides para garantir a materialidade do corpo, no transporte (discutível) para o além. Não aceitar, no sentido de se dobrar ao inexorável é uma atitude patética. Se espera, do homem vivido, um mínimo de atitude filosófica , no tocante às suas experiências de vida, que nunca poderão serr reeditadas. Os remendos da ciirurgia plástica só fazem mais óbvia a idade - só que sem maturidade. (Enio Mainardi)

domingo, 15 de janeiro de 2012

Aventura

Vi seu olhar, seu olhar de festa,
de farol de moto, azul celeste
me ganhou no ato uma carona pra lua...
Te arrastei estradas, desertos
Botecos abrindo e a gente rindo,
brindando cerveja, como se fosse champagne.
Todos faróis me lembram seu olhos, durmo a viajar entre lençóis
seu corpo fica a dançar, no meio do nosso jantar... luz de velas
Aventurar por toda cidade a te procurar, todos lugares
Pintam ciúmes na mesa de um bar, mas você sente a começa a brincar
Diz : Fica frio, meu bem, é melhor relaxar
Palmeira no mar
(Eduardo Dusek)

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

tudo o que restou

E a tardinha ela lavou os cabelos na bacia com a água gelada do poço. Esfregou bem os cabelos com o sabonete cor de rosa. Lavou, penteou e prendeu os cabelos úmidos num coque no alto da cabeça.E foi para a a escola. E depois de encerrada a aula, o menino da sala ao lado companhou-a na volta para casa.
E no ponto em que se despediam, em que cada um seguia o seu rumo, aconteceu o primeiro beijo. Um beijo consentido, não um daqueles beijos receosos, daqueles beijos roubados. Não, um beijo onde entregou não apenas a boca, mas entregou a alma.
E depois do beijo, nenhuma palavra. Apenas virou-se e seguiu na direção do seu caminho. E no resto do caminho até sua casa, a menina sentia o coração disparado. Instintivamente, desfez o coque do cabelo, e os sentiu ainda úmidos. E sentiu o cheiro do sabonete. E o que ficou na lembrança daquele beijo foi aquele cheiro.
( do Livro Tudo o que restou)

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

pois é, que pena

Eu gostava do seu beijo, porque era o seu beijo. Gostava dos seus abraços,  porque era o seu abraço. Eu gostava do seu cheiro  porque era o seu cheiro. Gostava do seu cabelo e do jeito como o vento deixava ele bagunçado. Gostava da expressão que tu fazia.  Eu gostava de conversar contigo, de ficar com você quando tudo estava errado. Gostava de como você me tratava com carinho, como me fazia me sentir única e especial. Eu gostava de você quando você me beijava depois de uma briga . Gostava de quando você me fazia rir, quando me deixava irritada ou quando do nada você me fazia cocegas  só para me ver sorrir. Eu gostava de tantas coisas em você, e ainda gosto. Pena que a maioria dessas coisas, eu não  vivi ao seu lado, vivi em meus pensamentos , elas nunca existiram e eu fiquei lá esperando tudo isso ser de verdade e não foi.
Pois é, que pena.

E nós nunca vamos

E nós nunca vamos nos beijar na chuva. Eu também nunca vou calar sua boca com um beijo e nenhuma das nossas brigas vão acabar na cama. Eu nunca vou te observar enquanto você dorme e nunca vou fazer cafuné em você quando você estiver com a cabeça deitada no meu peito. Não vamos passar tardes assistindo filmes românticos debaixo das cobertas e comendo brigadeiro. Também não vamos passar madrugadas acordados conversando. Nossos planos não vão se concretizar. Eu não vou ficar com vergonha conhecendo sua família.Não vamos contar aos nossos filhos a longa e estranha história sobre como nos conhecemos. As pessoas não vão olhar pra nós e falarem sobre como nós somos bonitinhos juntos. Não vamos discutir sobre quem vai levantar pra apagar a luz do quarto. Não vamos ter um futuro.Tudo isso poderia ter acontecido, mas não vai. Porque nós dois fomos feitos pra nos conhecermos, nos apaixonarmos, mas não pra ficarmos juntos.
Vinícius Kretek

Nunca mais

Nunca mais se olharam, nunca mais se tocaram, nunca mais se falaram, nunca mais se esqueceram. Os nuncas que a vida colocou na vida daqueles dois, daquele menino tão diferente, mas, tão igual a todos os meninos, e daquela menina tão igual, mas tão diferente que era até engraçado retratar o dia a dia daquele casal, mas no fundo, não era bem um casal assim. Era somente ela e ele que por ironia, ou não por tão ironia assim fez com que tudo mudasse, e tudo girasse ao contrário.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Ridiculo

Mas eu desconfio que a única pessoa livre, realmente livre, é a que não tem medo do ridículo.

A vendedora de tapetes

No corredor do Shopping , num quiosque  vejo a vendedora de tapete. Tapetes belga, exatamente como eu vinha desejando comprar para coloca-los no meu quarto.Paro, pergunto o preço. Está barato digo, contrariando todas as expectativas para pedir um desconto.  Ela diz: ah meu marido trabalha na fábrica e os repassa para mim. Não cobra a comissão dele, então posso vender mais barato. Ela é simpática, tem carisma como vendedora, e,  sou fisgada pela vontade de possuir os tapetes belga. Pergunto se não são muito pesados para transporta-los, já que estou de ônibus. Ela prontamente me mostra que os tapetes são levissimos, os dobra de forma que caibam numa sacola média e voilá, "saco la tarjeta de crédito". Compra consumada, conto que vou colocar os tapetes no quarto. Que vai combinar com os móveis novos que comprei e nessa conversa entramos no assunto casamento. Conto que estou descasada. E ela me conta; Ah meu casamento está por um fio. Estou por aqui e faz aquele gesto de "cheia". Faz três anos que nem intimidades temos, casamento acabou. Já mandei ele embora, não vai porque a casa é dele também. Ele bebe sabe, me diz ela. Bebe e muito. No Natal até desejei que acontecesse alguma coisa ruim com ele porque é duro viu, trabalhar aqui no corredor do shopping o dia inteiro e chegar em casa e encontrar um traste bebado. Fico constrangida, não sei o que dizer.Como consolar alguém que conta uma verdade assim? Eu poderia perguntar: você o ama? já procurou ajuda para a doença dele? quer manter esse casamento? Vejo que aquela mulher quer compartilhar seu drama, tenho vontade de esperar o shopping fechar, convida-la para um café e juntas compartilharmos a sua história. Mas eu também não tenho certeza se sou capaz de tamanha invasão ou se ela realmente quer essa proximidade. Ela ainda faz uma última tentativa daquele contato não ficar perdido, me oferece seu cartão e me diz: volte outras vezes. Mesmo que não seja para comprar, venha conversar. Eu pego o cartão, coloco na bolsa, me despeço não como cliente, mas como amiga e lhe ofereço um abraço. Quase envergonhada pela intimidade digo: volto sim. Claro que volto. E vou embora.