sábado, 13 de outubro de 2012


E pela manhã, ela lavou os cabelos na água quente do chuveiro.
Esfregou bem com um shampoo cheiroso ( presente da filha mais velha que tinha mania dos importados). Secou o cabelo, prendeu num coque no alto da cabeça. Lamentavelmente deu-se conta que não restava mais nenhum fio do outrora cabelo ruivo, já estavam todos brancos. Há alguns anos tinha desistido de pinta-los. Apesar de lamentar, gostava deles assim.
Escolheu entre alguns pares de brinco ali da caixinha de madeira, por um de pérolas, e mentalmente pensou na blusa branca que pretendia usar: boa escolha.
Um tico de cor nas bochechas, um arremedo de batom nos lábios. Examinou os dentes: em bom estado. Gostou do que o espelho refletia, um semblante sereno, marcado por rugas. Mas gostava delas, das rugas, tinha demorado tantos anos para conquista-las.
Quedou-se ali na frente do espelho a olhar para aquela mulher refletida no pequeno espelho. O que via? Enxergava apenas o rosto marcado pelo tempo ou enxergava a alma da mulher que fora? Teria coragem de olhar dentro da alma e enxergar todos os segredos? Balança a cabeça na tentativa de afastar os pensamentos...mas os pensamentos tem vida própria, são teimosos, e insistem.,.. e ela se deixa levar pelas lembranças.
Reage. Não. Hoje não. Só por hoje : não. Hoje é o dia de seu aniversario. Tantas providẽncias a serem tomadas, os filhos virão jantar à noitinha....