sexta-feira, 14 de maio de 2010

CAMA NOVA


Preciso urgente de uma cama nova.
Primeiro porque a cama onde durmo está velha, colchão velho, gasto, acordo todos os dias com dor nas costas.
Segundo, porque, quero me livrar de velhas recordações, pudesse renovaria tudo no quarto. Mas o dinheiro está curto, minha finanças está empatada com a crise da Grécia.
Voltada que estou com minhas atenções para cama e colchão, tenho reparado na infinidade de lojas de colchões que existem na cidade.
Há uma loja na frente do ponto do ônibus que apanho para ir ao trabalho, outra a menos de 200 m, e mais outra coladinha em mais outra, e outra, vou contando no trajeto do ônibus. E há outra bem em frente do prédio onde trabalho. Ou seja, dá para comparar preços e modelos. Ah e fora o canal de vendas na Televisão. Dificil decidir entre tantos modelos. Fico muito indecisa.
Mas enquanto a situação financeira não permite que eu faça a compra, comprarei um jogo de lençoís novos e um pijama novo.
Hoje entrei nas casas Bahia para ver preços. Sentei numa casa box linda, grande, e de repente enxerguei um passado.
Quando eu era menina, devia ter uns 8 anos, dormia numa cama de palha. Cama patente, com colchão feito de palha de milho.
O colchão, se é que poderia ser chamado de colchão, era uma saco de chita do tamanho da cama feito pela minha mãe, que recebia o recheio de palha.
Para que o colchão ficasse bem fofinho, existia um buraco no saco, onde você, ou quem fosse arrumar a cama, enfiava a mão, e afofava bem a palha, até que o colchão ficasse altinho.
Quando você deitava naquele monte de palha, cuidadosamente espalhado e afofado, imediatamente aquilo afundava.
Pela manhã, você acordava praticamente sobre o estrado.
Eu tinha duas opções: ou dormia na cama de palha ou dividia a cama com mais dois irmãos.
Como eu fazia xixi na cama ( e o fiz até os 12 anos) ninguém me queria na cama então sobrava a cama de palha.
Eu até que gostava da minha cama, mas o tormento era na hora de arrumar a cama. Porque a cama tinha que ser arrumada e bem arrumada. Eramos pobres, mas limpinhos.
Enfiar a mão naquele buracos, era um sofrimento. Um tormento. Só comparado ao medo que eu sentia de apanhar da minha vizinha Terezinha, que todos os dias depois da aula, me obrigava a vir correndo pra casa, ante a promessa de: vou te pegar na saída da aula.
Contavam histórias, e quem contava eram os mais velhos, que num sitio lá não sei onde, nos cafundós do juda, uma mulher tinha enfiado a mão no buraco e tinha sido picada por uma cobra. Ninguém conhecia a tal mulher que fora picada, mas juravam que era verdade.
Diziam, que as cobras entravam no saco porque era quentinho e ficava esperando a mão que iria afofar a palha para picar. Eu acredita que existia uma cobra dentro do meu colchão, que estava sempre pronta, todos os dias pela manhã, para me atacar.
Eu não tinha medo da cobra à noite quando dormia sobre aquele colchão. Para mim a cobra só existia pela manhã, na hora da arrumação.
Sofria em silêncio, nunca dividi com nenhum de meus irmãos, nem com meus pais, amigos, o pavor que eu sentia da cobra que para mim era real e morava no colchão.
A cobra não tinha vida além dos limites daquele colchão, ela só existia no mundo para me apavorar e para um dia abocanhar um pedaço da minha mão.
Eu enfiava a mão no buraco, e rezava um pai nosso de olhos fechados, pedindo para não ser picada. Fazia promessas, oferecia aos santos rezas, confessava meus pecados ao Santo Padre e houve um tempo que ia à missa todos os dias. Vestida de branco, com a minha roupa da primeira comunhão. Prometia obediência e o cumprimento dos mandamentos da Lei de Deus.
Um dia, compraram um colchão de crina para a caminha, e a minha irmã mais velha passou a dormir naquela cama.
Simples assim.
Naquele tempo, criança não discutia. Obedecia.
Simples assim.
E eu, eu voltei a dividir uma cama com meus dois irmãos.
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