quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A vendedora de tapetes

No corredor do Shopping , num quiosque  vejo a vendedora de tapete. Tapetes belga, exatamente como eu vinha desejando comprar para coloca-los no meu quarto.Paro, pergunto o preço. Está barato digo, contrariando todas as expectativas para pedir um desconto.  Ela diz: ah meu marido trabalha na fábrica e os repassa para mim. Não cobra a comissão dele, então posso vender mais barato. Ela é simpática, tem carisma como vendedora, e,  sou fisgada pela vontade de possuir os tapetes belga. Pergunto se não são muito pesados para transporta-los, já que estou de ônibus. Ela prontamente me mostra que os tapetes são levissimos, os dobra de forma que caibam numa sacola média e voilá, "saco la tarjeta de crédito". Compra consumada, conto que vou colocar os tapetes no quarto. Que vai combinar com os móveis novos que comprei e nessa conversa entramos no assunto casamento. Conto que estou descasada. E ela me conta; Ah meu casamento está por um fio. Estou por aqui e faz aquele gesto de "cheia". Faz três anos que nem intimidades temos, casamento acabou. Já mandei ele embora, não vai porque a casa é dele também. Ele bebe sabe, me diz ela. Bebe e muito. No Natal até desejei que acontecesse alguma coisa ruim com ele porque é duro viu, trabalhar aqui no corredor do shopping o dia inteiro e chegar em casa e encontrar um traste bebado. Fico constrangida, não sei o que dizer.Como consolar alguém que conta uma verdade assim? Eu poderia perguntar: você o ama? já procurou ajuda para a doença dele? quer manter esse casamento? Vejo que aquela mulher quer compartilhar seu drama, tenho vontade de esperar o shopping fechar, convida-la para um café e juntas compartilharmos a sua história. Mas eu também não tenho certeza se sou capaz de tamanha invasão ou se ela realmente quer essa proximidade. Ela ainda faz uma última tentativa daquele contato não ficar perdido, me oferece seu cartão e me diz: volte outras vezes. Mesmo que não seja para comprar, venha conversar. Eu pego o cartão, coloco na bolsa, me despeço não como cliente, mas como amiga e lhe ofereço um abraço. Quase envergonhada pela intimidade digo: volto sim. Claro que volto. E vou embora.

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