E pela manhã, ela
lavou os cabelos na água quente do chuveiro.
Esfregou bem com um
shampoo cheiroso ( presente da filha mais velha que tinha mania dos
importados). Secou o cabelo, prendeu num coque no alto da cabeça.
Lamentavelmente deu-se conta que não restava mais nenhum fio do
outrora cabelo ruivo, já estavam todos brancos. Há alguns anos
tinha desistido de pinta-los. Apesar de lamentar, gostava deles
assim.
Escolheu entre alguns
pares de brinco ali da caixinha de madeira, por um de pérolas, e
mentalmente pensou na blusa branca que pretendia usar: boa escolha.
Um tico de cor nas
bochechas, um arremedo de batom nos lábios. Examinou os dentes: em
bom estado. Gostou do que o espelho refletia, um semblante sereno,
marcado por rugas. Mas gostava delas, das rugas, tinha demorado
tantos anos para conquista-las.
Quedou-se ali na frente
do espelho a olhar para aquela mulher refletida no pequeno espelho. O
que via? Enxergava apenas o rosto marcado pelo tempo ou enxergava a
alma da mulher que fora? Teria coragem de olhar dentro da alma e
enxergar todos os segredos? Balança a cabeça na tentativa de
afastar os pensamentos...mas os pensamentos tem vida própria, são
teimosos, e insistem.,.. e ela se deixa levar pelas lembranças.
Reage. Não. Hoje não.
Só por hoje : não. Hoje é o dia de seu aniversario. Tantas
providẽncias a serem tomadas, os filhos virão jantar à
noitinha....
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