sábado, 22 de agosto de 2015

medo

eu tinha dois grandes medos na vida: um  ficar sozinha sem um marido e o outro perder o amor dos meus filhos.
o marido eu perdi.
só espero nunca perder o amor dos meus filhos.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Um anjo na minha vida- quesitto trabalho

Primeiro Anjo da vida profissional- Ponta Grossa Paraná- 1978
Eu o conheci numa fila. Mais precisamente numa  fila na faculdade.
Por acaso eu estava desempregada.E por acaso ele era o responsável pela contratação num grande banco.
Ali mesmo na fila eu lhe pedi um emprego. E ele me indicou pro cargo.
Começar a trabalhar naquele banco foi  o começo de grandes mudanças na minha vida. Mudança pra melhor. E bota melhor nisso.
Ele não foi apenas um chefe, foi um grande amigo.  Ele não me deu apenas um emprego, ele me deu a primeira grande oportunidade profissional.
Fernando Arias, obrigada por ter sido um anjo na minha vida.


Segundo Anjo da vida profissional :  São Paulo 2007
Um dia, alguém que achava ser Deus, quis mudar o meu destino profissional.
E aconteceu, que eu estava numa situação que demandava apenas um milagre. Não havia luz no fim do túnel.
E  mais uma vez eu encontrei um anjo. O destino me levou até a Maria Inez Fornazaro. E esse anjo, não apenas me acolheu, ela mostrou a luz..
Encontrei não apenas uma das melhores   profissionais com quem trabalhei, encontrei um ser humano  de espírito elevado.
Maria Inez Fornazaro obrigada por  ter sido um  anjo na minha vida.


Anjo quesito vizinho
Eram os anos 60. Ourinhos SP
Quem tinha televisão em casa?? Eu não.
Apenas quem tinha televisão no bairro onde eu morava era a familia do Sr. Orlando e da Dona Emilia. Comadre Emilia como dizia minha mãe. O Tadeuzinho, filho mais novo do casal era afilhado da minha mãe.
Todos os dias a casa do Orlando e da Emilia era invadida por umas quarenta pessoas. Os mais velhos, sentavam no sofá.Outros nas cadeiras, e as crianças no chão Alguns que não cabiam na sala tinham que ficar de fora assistindo pela janela aberta. Ninguém ficava sem assistir. Assistiamos a Muralha, algumas vezes o programa do Procópio Ferreira . Seu Orlando trabalhava na Sanbra e tinha que acordar cedo.
A genrosidade com que aquele casal dividia a televisão ....
Dona Emilia sempre sorridente, sempre amável, Seu Orlando discreto e educado recebia aquele contigente  sem reclamar. Imagina o que é você ter visita todos os dias??
E o casal ainda promovia  os melhores bailinhos pros jovens da vizinhança. 
O destino levou a familia do Orlando e da Emilia pra outros lados, como também levou a minha.
Nunca mais nos vimos. Recentemente encontrei a Terezinha Vicente, filha deles. Recordei com ela aquele velhos tempos, belos dias.
Obrigada Terezinha Vicente, por ter pais tão generosos.
Seus pais foram anjos, não apenas na minha vida, mas na vida de muita gente.

Anjo quesito irmã

Eram os anos 70
Terminei o segundo grau  e nada tinha mais a fazer na pequena Jaguariaiva.
Fui morar em Curitiba com a minha irmã Neuci.
A casa era pequena pra ela, o marido e dois filhos. Mas ela me acolheu com uma generosidade que eu tenho duvida se a teria.
Não me deu apenas um lugar pra dormir, ela me acolheu com bondade.Com o jeito Neuci de ser.
Nunca vou poder pagar o tanto que ela fez por mim.Tivesse ela se recusado a me receber, minha história seria muito diferente. Minha jornada mais dificil.
Nunca vou poder pagar o que ela fez , posso apenas agradecer. Obrigada Neuci
por ter sido um anjo na minha vida. 

Anjo da vida-
Quesito_ um anjo caiu do céu.
Há muito tempo atrás, eu conheci uma linda menina chamada Georgina.
No primeiro dia em que a vi, na agência onde fazíamos o mesmo estágio, fiquei impressionada com a beleza da menina.
Mas a menina não era apenas linda.
A menina linda era também generosa.
Mas a menina não era apenas  generosa, a menina era muito generosa.
E a menina linda e generosa era generosa porque era assim que ela era. Ela apenas sabia ser generosa.
Num mundo de meninas más, de cabelos ruins, aquela menina generosa de cabelos lindos, vivia sorrindo.
A menina linda e generosa, de cabelo bom que vivia sorrindo, não apenas fazia bem ao coração das pessoas, ela também sabia repartir outros bens que possuía.E a menina era assim porque os pais eram assim.
Caminhos da vida nos separaram, muitos e muitos anos se passaram, sem que eu a visse mais.
A menina linda e generosa, de cabelo bom que vivia sorrindo, que fazia bem ao coração das pessoas, que eu conheci há  muito, muito tempo atrás, reencontrei-a  virtualmente recentemente.  
Continua linda a menina, na foto o mesmo brilho no olhar, o mesmo sorriso lindo....
E ai eu tive a oportunidade de contar para a menina, a diferença que ela fez na minha vida.
Obrigada Georgina Maria Jorge, por ter sido um anjo na minha vida.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Aposentdoria

Daqui a uns poucos meses, menos de um ano vou me aposentar.
Vou aposentar com 30 anos de efetivo exercício. Faz 25 anos que trabalho para a municipalidade de SP,  mais 8 anos no setor privado,
Ai quando comento com algumas pessoas ou mesmo familiares ouço a pergunta: mas será que você vai acostumar a ficar em casa?
Ai bate aquela dúvida. Será que "ficar em casa" é mesmo decretar um  estado menos favorável pra existência? Ou seria poder aproveitar e curtir algumas coisas que não foram possíveis nessa jornada?
Tenho vontade de aprender a costurar, frequentar um curso de corte e costura sem a expectativa de sair de lá uma expert costureira. Apenas testar e satisfazer um sonho antigo. Bordar um pano de algodão com ponto atrás e ponto cruz, ficar a tarde inteira entretida na linha e agulha sem aquela sensação que o tempo poderia estar sendo melhor aproveitado, afinal a louça, a roupa no varal  e outros afazeres esperam nas poucas horas de folga que tem quem trabalha fora.
Penso em visitar o lugar onde passei a infância, rever amigos, visitar parentes. Penso em organizar fotos à muito esquecidas, 
Tenho vontade de testar as milhares de receitas que guardo à tanto tempo, fazer um bate e volta até a praia, ficar a noite inteira assistindo minha série favorita.
Penso em ficar uma semana de pijama na cama, na melhor companhia de uma dezena de livros.
Penso em ficar disponível para meus filhos, fazer um trabalho voluntário que faça diferença na vida das pessoas.
Começar a praticar esportes, escrever mais.
Poderia ter feito tudo isso mesmo trabalhando. Algumas coisas fiz, mas fiz com pressa, algumas vezes até com culpa por estar "roubando" tempo dos meus filhos.
Mas na verdade, o que sinto é que estou cansada. Cansada do trânsito, da rotina. Cansada do trabalho.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Sem Enfeite Nenhum Adélia Prado

Um dos cem Melhores Contos Brasileiros do Século"

4 de março de 2012 às 14:46
Sem Enfeite Nenhum
Adélia Prado
A mãe era desse jeito: só ia em missa das cinco, por causa de os gatos no escuro serem pardos. Cinema, só uma vez, quando passou os Milagres do padre Antônio em Urucânia. Desde aí, falava sempre, excitada nos olhos, apressada no cacoete dela de enrolar um cacho de cabelo: se eu fosse lá, quem sabe?
Sofria palpitação e tonteira, lembro dela caindo na beira do tanque, o vulto dobrado em arco, gente afobada em volta, cheiro de alcanfor.
Quando comecei a empinar as blusas com o estufadinho dos peitos, o pai  chegou pra almoçar, estudando terreno, e anunciou com a voz que fazia nessas ocasiões, meio saliente: companheiro meu tá vendendo um relogim que é uma gracinha, pulseirinha de crom', danado de bom pra do Carmo. Ela foi logo emendando: tristeza, relógio de pulso e vestido de bolér. Nem bolero ela falou direito de tanta antipatia. Foi água na fervura minha e do pai.
Vivia repetindo que era graça de Deus se a gente fosse tudo pra um convento e várias vezes por dia era isto: meu Jesus, misericórdia... A senhora tá triste, mãe? eu falava. Não, tou só pedindo a Deus pra ter dó de nós.
Tinha muito medo da morte repentina e pra se livrar dela, fazia as nove primeiras sextas-feiras, emendadas. De defunto não tinha medo, só de gente viva, conforme dizia. Agora, da perdição eterna, tinha horror, pra ela e pros outros.
Quando a Ricardina começou a morrer, no Beco atrás da nossa casa,   ela me chamou com a voz alterada: vai lá, a Ricardina tá morrendo, coitada,  que Deus perdoe ela, corre lá, quem sabe ainda dá tempo de chamar o padre, falava de arranco, querendo chorar, apavorada: que Deus perdoe ela, ficou falando sem coragem de aluir do lugar.
Mas a Ricardina era de impressionar mesmo, imagina que falou pra mãe, uma vez, que não podia ver nem cueca de homem que ela ficava doida.  Foi mais por isso que ela ficou daquele jeito, rezando pra salvação da alma da Ricardina.
Era a mulher mais difícil a mãe. Difícil, assim, de ser agradada. Gostava que eu tirasse só dez e primeiro lugar. Pra essas coisas não poupava, era pasta de primeira, caixa com doze lápis e uniforme mandado plissar. Acho mesmo que meia razão ela teve no caso do relógio, luxo bobo, pra quem só tinha um vestido de sair.
Rodeava a gente estudar e um dia falou abrupto, por causa do esforço de vencer a vergonha: me dá seus lápis de cor. Foi falando e colorindo laranjado, uma rosa geométrica: cê põe muita força no lápis, se eu tivesse seu tempo, ninguém na escola me passava, inteligência não é estudar, por exemplo falar você em vez de cê, é   tão mais bonito, é só  acostumar. Quando o coração da gente dispara e a gente fala cortado, era desse jeito que tava a voz da mãe.
Achava estudo a coisa mais fina e inteligente era mesmo, demais até, pensava com a maior rapidez. Gostava de ler de noite, em voz alta, com tia Santa, os livros da Pia Biblioteca, e de um não esqueci, pois ela insistia com gosto no titulo dele, em latim: Máguina pecatrís. Falava era antusiasmo e nunca tive coragem de corrigir, porque toda vez que tava muito alegre, feito naquela hora, desenhando, feito no dia de noite, o pai fazendo serão, ela falou: coitado, até essa hora no serviço pesado.
Não estava gostando nem um pouquinho do desenho, mas nem que eu falava. Com tanta satisfação ela passava o lápis, que eu fiquei foi aflita, como sempre que uma coisa boa acontecia.
Bom também era ver ela passando creme Marsílea no rosto e Antissardina n° 3, se sacudindo de rir depois, com a cara toda empolada. Sua mãe é bonita, me falaram na escola. E era mesmo, o olho meio verde.
Tinha um vestido de seda branco e preto e um mantô cinzentado que ela gostava demais.
Dia ruim foi quando o pai entestou de dar um par de sapato pra ela. Foi três vezes na loja e ela botando defeito, achando o modelo jeca, a cor regalada, achando aquilo uma desgraça e que o pai tinha era umas bobagens. Foi até ele enfezar e arrebentar com o trem, de tanta raiva e mágoa.
Mas sapato é sapato, pior foi com o crucifixo. O pai, voltando de cumprir promessa em Congonhas do Campo, trouxe de presente pra ela um crucifixo torneadinho, o cordão de pendurar, com bambolim nas pontas, a maior gracinha. Ela desembrulhou e falou assim: bonito, mas eu preferia mais se fosse uma cruz simples, sem enfeite nenhum.
Morreu sem fazer trinta e cinco anos, da morte mais agoniada, encomendando com a maior coragem: a oração dos agonizantes, reza aí pra mim, gente.
Fiquei hipnotizada, olhando a mãe. Já no caixão, tinha a cara severa de quem sente dor forte, igualzinho no dia que o João Antônio nasceu. Entrei no quarto querendo festejar e falei sem graça: a cara da senhora, parece que tá com raiva, mãe.
O Senhor te abençoe e te guarde,
Volva a ti o Seu Rosto e se compadeça de ti,
O Senhor te dê a Paz.
Esta é a bênção de São Francisco, que foi abrandando o rosto dela, descansando, descansando, até como ficou, quase entusiasmado.
Era raiva não. Era marca de dor.
Texto publicado em "Prosa Reunida", Editora Siciliano - São Paulo, 1999, foi incluído por Ítalo Moriconi no livro "Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século", Editora Objetiva - Rio de Janeiro, 2000, pág. 349.

Chve chuva

foi só eu:
1- fazer um esforço danado pra lavar o quintal com a água da máquina de lavar
2- deixar as janelas abertas
3- deixar 3 varais de roupa secando
4- fazer escova no cabelo
que a chuva chegou

Ajudante de motorista

Entro no ônibus. Ponto Final. Praça do Correio. Centro da Cidade de São Paulo.
O cobrador não estava e fiquei na parte da frente. Entram o motorista e o cobrador e me perguntam: você sabe o itinerário desse ônibus? Eu e o cobrador somos novatos, é minha primeira viagem de volta. Pode por favor sentar aqui ao meu lado e ir me indicando o itinerário?
Então eu assumo a função de ajudante : vira a es...querda, vira a direita, passa o viaduto, pega a direita, olha o corredor, olha o ponto, até o instante em que a chuva impedia enxergar qualquer objeto. Pergunto pelo desembaçador e o motorista não sabe onde é. E fala ao telefone com a suposta namorada. E o ônibus vai se arrastando pela avenida, numa marcha nervosa. Até que a mulher ao lado oferece um pano e eu limpo o para-brisas. E quando tem que virar a esquerda ele passa direto e vamos por caminhos desconhecidos. Mas de alguma forma a Avenida Imirim surge a nossa frente e o motorista suspira aliviado: e diz aqui eu conheço.
Faço menção de passar a catraca e o cobrador diz: Paga não Dona, aqui a senhora é VIP. Nos salvou.
E eu desço aliviada, pensando como foi que consegui trazer o ônibus até aqui, eu que nunca consigo distinguir a esquerda da direita?